quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Era uma garota tão doce. O que sempre me atraiu nela foi o seu silêncio, não era um silêncio qualquer, era cheio de contrastes e pequenos silêncios uns dentro dos outros como ondas num lago.
Ela não tentava me entender, sabia que era tolice pretender isso. Odeio pessoas que entendem, nada é mais sujo e abjeto, entender é o pior insulto, um engodo embrulhado em papel dourado.
Entre nós não foi preciso entender: eu tinha a minha dor com palavras e ela o seu silêncio.

Uma tarde apareceu na minha casa. Fazia seis meses qye não tinha notícia dela, foi uma grnade surpresa. Eu estava vestido porque ia sair. Perguntei como iam as coisas com o cara. Ela não quis falar disso, pediu que eu me deitasse na cama e depois subiu em cima de mim. Tentei abraçá-la. Disse que eu não fizesse nada, que ficasse quieto, que não dissesse uma palavra. Sua voz era dura e raivosa. Era se remexeu em cima de mim com calma e em seguida foi acelerando pouco a pouco. Não me beijou. Suas mãos tocavam o meu rosto e ombros com extrema delicadeza. Ficou uma meia hora em cima de mim e depois se despediu. Não sabia o que fazer, fiquei ali deitado sentindo o seu corpo, com medo de perdê-lo mais uma vez, sentindo como o seu calor esfriava levemente sobre mim, como a sensação de movimento ia ficando imóvel, como se esvaía sua figura, como me deixava sozinho até o fim do mundo. Eu estava molhado e cada extremo da minha pessoa pulsava como mil medos no coração de um pássaro. Não queria pensar, não queria a sombra de uma idéia, não queria saber, queria ficar ausente como o lado oculto de um sonho.

Mudar-se é a pior coisa que existe: deixar um lugar, colocar as coisas num caminhão que o levará para um lugar novo. Os lugares costumam ser anti-sociais no começo, alguns o são sempre. Para trás ficam amigos e namoradas, fica a cor do céu a determinada hora e em determinada companhia. Pensei que uma certa garota era a minha recompensa por cada osso quebrado e tanto impulso assassino, pensei que com ela não haveria truqes nem desassossego, que por fim ia me jogar na grana e respirar o ar do amanhecer. Enfim, Pior. Fui mais eficaz do que a vida, fiz de uma certa garota outra armadilha, outro salto para o vazio e a dor mais aguda e duradoura de todas.

O amor é bom enquanto dura mas às vezes dura demais. Eu gostaria de pensar que tudo acaba e começa, eu gostaria de dizer que a experiência ajuda, eu gostaria de saber que estou morto, que não levo nem jeito pra mim. Felizmente, quando as coisas vão mal alguém vem e as piora, esse é o único alívio.

Era uma vez o amor mas tive que matá-lo, Efraim Medina Reyes

Nenhum comentário: